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Assistente Social Vera Lúcia Marques 


ASSISTENTE SOCIAL VERA LÚCIA MARQUES 

Por Robson Marques Cury

Vera Lúcia Marques foi uma integrante dedicada do quadro de técnicos que prestavam serviços na Vara de Menores Infratores, localizada na Rua Nilo Peçanha, vinculada à Vara de Menores, situada na Avenida Iguaçu, cujo titular era o juiz de Direito Tufi Maron Filho que sucedeu ao Magistrado Moacir Guimarães. 

No ano de 1990, no início da vigência do Estatuto da Criança e Adolescente – Lei n° 8.069, fui designado pelo Tribunal de Justiça como juiz de Direito Substituto para atender a referida vara especializada, que contava com moderna estrutura para a época, uma frota de veículos Volkswagen modelo Gol, motoristas e equipe técnica formada por assistentes sociais, psicólogas e pedagogas. 

Mesmo com a minha experiência como titular da Vara de Menores da comarca de Cascavel, em meados dos anos oitenta, fiquei deveras impressionado com o comprometimento da equipe técnica. Em nossas reuniões, eu enfatizava que se conseguíssemos afastar um só adolescente infrator da chaga que era a reincidência, o nosso esforço teria valido a pena. 

O então escrivão Sidnei, com grande espírito de liderança, aglutinava as equipes administrativa e técnica. 

Nas minhas decisões, aconselhava os adolescentes, transcrevendo passagens do livro “Minutos de Sabedoria”, de C. Torres Pastorino. 

Para homenagear as servidoras, escrevi a crônica intitulada “Anjos da Justiça”, destacando as seguintes passagens: 

“Todavia, dentre todos os que trabalham no Poder Judiciário, destaca-se um contingente técnico integrado, na imensa maioria, por pessoas do sexo feminino, cujo trabalho permanece praticamente no anonimato, ignorado pela população. São as assistentes sociais, pedagogas e psicólogas que atuam nas principais comarcas do Estado, principalmente, nas áreas da infância, juventude e da família. 

Algumas muito jovens, recém-formadas, outras experientes, indistintamente mostram devotada dedicação à causa da Justiça. 

Cumprindo determinações dos juízes de Direito, em suas comarcas, embrenham-se essas abnegadas técnicas, utilizando como transporte desde o veículo oficial até as próprias pernas, pelos mais recônditos arrabaldes, onde muitas vezes constitui verdadeiro requinte a existência do nome da rua, se é que algumas vielas assim podem ser chamadas.” (Cotidiano Forense, Vitoria Gráfica & Editora, 2016). 

A equipe foi reforçada com os seguintes técnicos: Maria Eliane Rocha – assistente social, Vilma Aparecida Demori – psicóloga, Márcia Tamura Campos Ribeiro – assistente social, Sara Calisto Batista – assistente social, Carolina de Oliveira Mendes – assistente social, Karin Santos – psicóloga, Ângela Marisa Goslar – assistente social, Tereza Roskamp – assistente social, Lindamir Pretes – assistente social, Elizabeth Araújo Molteni – assistente social, Eliana Teixeira Machado – assistente social, Rosemary Oliva – psicóloga, Sylnara Regina Borges – psicóloga, Cristiana Oliveira Mendes – psicóloga, Mércia Maria P. dos Santos – Psicóloga, Jussara Gonçalves – assistente social, e Maria Stella Deiana.  

Esse reforço aconteceu em 2003, e o juiz de Direito Márcio Tokars designou a Vera como coordenadora técnica da equipe. Nas suas palavras: “A Vera era uma pessoa incrível e graças a ela conseguimos implantar o Núcleo de Acolhimento Familiar para implantar o atendimento integral que o ECA determina, acompanhando as famílias para encaminhar, além dos adolescentes, também os pais e irmãos para tratamento e emprego, tratando a família como um todo”. 

Os meus sucessores nessa Vara de Adolescentes Infratores foram os magistrados Noeval de Quadros, Dilmari Kessler, Márcio Tokars e Maria Roseli Guiessmann, entre outros, os quais teceram diversos elogios ao trabalho desenvolvido por Vera Lúcia Marques. 

“Coragem e persistência eram as características mais marcantes da personalidade de Vera Lúcia, segundo a filha Isabele. Assistente social, era funcionária do Tribunal de Justiça e dedicou-se por vinte anos ao atendimento de adolescentes na Vara de Adolescentes Infratores. Por causa da doença, afastou-se em 2006. As histórias dos meninos a sensibilizaram e eram assunto entre ela e a filha. Seu trabalho era mais por amor do que obrigação. Filha e mãe tinham uma cumplicidade única. Separada do marido Harry, manteve com a filha única Isabele um imenso companheirismo. Eram mais do que mãe e filha, eram amigas. Isabele conta que o dia mais feliz da vida da mãe foi o da sua formatura. Vera Lúcia estava radiante e não cansava de dizer que a sua parte estava terminada. Muito vaidosa, nunca saía de casa sem passar no mínimo um batom.  Música e viagens faziam parte da sua lista de lazer. Deixa o viúvo e a filha” (Obituário, Gazeta do Povo, 28/01/2009). 

A filha de Vera, Isabele, é advogada e trabalha no renomado escritório de advocacia do pai Harry Françoia. Em entrevista, recordou diversas passagens marcantes do convívio com Vera Lúcia. Aqui, registro o significativo encontro com um adolescente infrator, quando ambas entravam à noite com o veículo no portão eletrônico da residência. Elas foram cercadas por um grupo de jovens e a filha foi impedida pela mãe de fugir acelerando, dizendo que os conhecia.  Vera abriu o vidro e travou o seguinte diálogo: 

- Oi (disse o nome dele) o que estão fazendo aqui? 

-Oi tia Vera, passeando. Tenha uma boa noite. E, despedindo-se, foi embora com os companheiros, deixando-as aliviadas diante do iminente risco de abordagem.