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Dia da Visibilidade Bissexual


DIA DA VISIBILIDADE BISSEXUAL

Comissão de Igualdade e Gênero do TJPR relembra principais conquistas e desafios do movimento

No mês de setembro, a Comissão de Igualdade e Gênero (CIG) do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR) se volta para a letra “B” da sigla LGBTQIAPN+, para comemorar o Dia da Visibilidade Bissexual (23/09). A celebração da data surgiu em 1999, nos Estados Unidos, idealizada pelos ativistas dos direitos bissexuais Wendy Curry, do Maine, Michael Page, da Flórida, e Gigi Raven Wilbur, do Texas. O intuito desses ativistas foi expor a sua invisibilidade na sociedade, inclusive dentro da comunidade LGBTQIAPN+. 

A bissexualidade é popularmente entendida como orientação por dois gêneros, por isso o prefixo “bi”. Na realidade, essa orientação significa não monossexualidade de se relacionar com mais de um gênero.  

“Nós estamos cansados de sermos analisados, definidos e representados por outras pessoas que não somos nós mesmos ou, ainda pior, não considerados de todo”. Este é um trecho do Manifesto bissexual, uma declaração histórica sobre o significado da bissexualidade, publicado na revista literária Anything That Moves (Estados Unidos, 1990).* 

Há registros sobre a bissexualidade entre os espartanos na Grécia Antiga (assim como sobre a homossexualidade – referenciada nesta e em outras culturas da Antiguidade). 

Com a ascensão da família nuclear burguesa (no século XIX), foram estabelecidos padrões para a sexualidade. O termo “bissexual” foi utilizado pela primeira vez na obra Psychopathia Sexualis, pelo neurologista Charles Gilbert Chaddock, em 1892. No início do século XX, Freud definiu a bissexualidade como “supostas combinações de masculinidade e feminilidade”. Para o pai da Psicanálise, antes da formação das genitais, denominada fase “Pré-genital”, os bebês não possuem sexo/gênero, e seria nesse momento que se originaria a bissexualidade – a orientação sexual original do ser humano segundo Freud. 

Em meados do século XX, diversos movimentos contribuíram para a causa bissexual. Em 28 de junho de 1969, ocorreu a Revolta de Stonewall, considerada o maior marco na luta LGBT. No ano seguinte, em 1970, foi realizada a primeira Marcha do Orgulho LGBT, organizada por Brenda Howard (junto com Donny The Punk), uma mulher bissexual, conhecida como a “mãe do orgulho”. E quatro anos depois, o dr. Fritz Klein, psiquiatra e pesquisador sexual, fundou o Fórum Bissexual, em Nova York, o primeiro grupo de apoio para a comunidade bissexual. 

Em 1998, Michael Page criou a bandeira bissexual para dar à comunidade bi seu próprio símbolo, representando na cor rosa a atração pelo mesmo gênero, no azul a atração pelo sexo oposto e no roxo, ao centro, a atração por ambos. 

Dias atuais 

A sociedade impõe certos comportamentos, ‘rótulos’, papéis e gêneros. O movimento bissexual, ao impulsionar as discussões sobre diferentes gêneros, não binariedade e atração por diferentes gêneros, acabou rompendo com ideias patriarcais e padrões. No entanto, dentro de um contexto atual, fala-se de um ‘apagamento’ da representação bissexual, mesmo dentro da própria comunidade LGBTQIAPN+. Isso porque essa orientação subverte padrões binários de sexualidade e de gênero. A esse respeito, Judith Butler, filósofa estadunidense, afirma que: “Desde o começo, contudo, a restrição binária à sexualidade mostra claramente que a cultura não é de modo algum posterior à bissexualidade que ela supostamente reprime: ela constitui a matriz de inteligibilidade pela qual a própria bissexualidade primária se torna pensável. A ‘bissexualidade’ postulada como fundação psíquica, e que se diz ser recalcada numa data posterior, é uma produção discursiva que afirma ser anterior a todo discurso, levada a efeito mediante práticas excludentes compulsórias e geradoras de uma heterossexualidade normativa.” (BUTLER, 2018, p. 80)* 

A importância do dia da visibilidade bissexual consiste em desmistificar certos preconceitos (como o de que bissexuais são necessariamente promíscuos e infiéis) e compreender que as pessoas bissexuais não estão confusas, ‘no meio do caminho’ e nem que desconhecem sua inclinação sexual. Pelo contrário, trata-se de indivíduos que amam independentemente de um estereótipo ou de sexualidade. 

Neste dia 23 de setembro, mais do que celebrar, deve-se evocar a luta do movimento pelo seu reconhecimento. Esse dia serve para lembrar que o “B” é mais do que apenas uma letra na sigla LGBTQIAPN+. 

 

*O texto original em inglês está disponível na página Bialogue. Disponível em: < https://bialogue-group.tumblr.com/post/17532147836/atm1990-bisexualmanifesto >. Acesso: 20/09/2023.

* Butler, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2018.